Estudo investiga a obesidade como fenômeno social

Artigo da revista “Saúde e Sociedade” mostra como hábitos alimentares podem ser resultado de conflitos internos e relacionados à cultura, que interferem na dieta e na atividade física

Se por um lado a razão e os médicos recomendam uma alimentação mais balanceada e mais atividade física, por outro pode haver questões de outra natureza influenciando a adoção ou não destes hábitos: sentimentos, crenças, luto – Foto: Pixabay CC

Quando se pensa em obesidade, é preciso se despir de preconceitos – como o de achar que alguém fora do peso considerado normal deve ser um “descontrolado”, que se deixa dominar pela gula. Mas então o que leva alguém à obesidade, condição de saúde que afeta 18,9% dos adultos brasileiros? As causas são variadas. E como toda situação complexa, precisa ser analisada em profundidade. Buscar entender, entre outras coisas, quais comportamentos são vividos como cuidado pelas pessoas obesas e quais são as implicações disso para a prática profissional em saúde. Artigo publicado na revista Saúde e Sociedade apresenta uma pesquisa mostrando que hábitos alimentares podem ser o resultado de conflitos internos que acabam por interferir na dieta e na atividade física.

Para a abordagem pretendida, os autores introduzem no artigo uma reflexão  sobre o corpo obeso, baseados no referencial filosófico do francês Merleau-Ponty, que afirma: “a obesidade expressa formas de ser; por meio do corpo o homem vivencia o mundo – o corpo carrega valores e percepções”. Os resultados da pesquisa, realizada com sete homens e cinco mulheres, mostram a tomada da decisão de cuidar-se ou não cuidar-se e os fatores que influenciam essa decisão; a “vivência das formas de cuidado, revelando possibilidades e dificuldades encontradas na execução do cuidado” e “emagrecimento como opção ou obrigação, questionando motivações para cuidar-se pela saúde ou atender a padrões estéticos“. A obesidade, segundo os autores, é doença cuja natureza e tratamento são complexos.

Chama-se a atenção para a urgência de políticas públicas capazes de proporcionar e estimular estilos de vida mais saudáveis, pois a obesidade deve ser pensada como fenômeno social, na reflexão necessária quando se quer reduzir o peso, com saúde, descartando “exercícios físicos extenuantes, medicamentos sem prescrição, gerando frustração e tristeza“. Enfrentar a obesidade é priorizar a particularidade do “eu“, o “corpo próprio”, segundo Merleau-Ponty, “que carrega os valores e as percepções do ser“. A pessoa obesa inicia o processo de enfrentamento olhando para seu corpo e não percebendo a obesidade como algo a ser cuidado.

Fonte: Jornal da USP

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