Sobre anticorpos neutralizantes e a CoronaVac

No primeiro dia de março, foi publicado um trabalho mostrando que soros de pacientes recuperados da covid-19, ou de voluntários vacinados com a CoronaVac, perdem capacidade de neutralizar a variante de Manaus do sars-cov-2.No mesmo dia, uma matéria no jornal O Estado de S. Paulo foi publicada com o título “Variante de Manaus pode escapar dos anticorpos produzidos pela CoronaVac, sugere estudo”.

A vigilância para detecção precoce de variantes do vírus é muito importante. Da mesma maneira, a ciência está atenta para a possibilidade de as novas  variantes escaparem da resposta imunológica, tanto em pacientes recuperados quanto em pessoas vacinadas.

O principal teste adotado para verificar este possível escape mede o quanto é necessário de uma amostra de plasma para neutralizar a entrada do vírus em células de laboratório. Neste experimento, o único jeito do vírus se dar mal é se houver no plasma testado anticorpos neutralizantes que, como diz o nome, neutralizam o vírus. Esse teste é especialmente importante no caso das vacinas da Pfizer, Moderna e AstraZeneca, que são baseadas na proteína Spike do vírus e induzem altos níveis de anticorpos neutralizantes contra ela. É por isso que modificações na proteína Spike são preocupantes, pois os anticorpos gerados por essas vacinas podem deixar de se ligar às Spikes variantes, reduzindo a eficácia da vacina.

Entretanto, a resposta imunológica não consiste apenas de anticorpos neutralizantes. Infecções naturais e vacinas estimulam respostas imunológicas multifatoriais. Simplificando, além de anticorpos neutralizantes, são gerados anticorpos não neutralizantes que agem de maneira diferente, células T CD4 e células T CD8. Portanto, mesmo que a proteína Spike das variantes mude e os anticorpos neutralizantes gerados pelas vacinas da PfizerModerna ou AstraZeneca passem a ser menos potentes (como mostrado aqui e aqui), ainda podem restar outros tipos de resposta para proteger a pessoa vacinada.

Esses outros tipos de resposta foram investigados em outro trabalho também publicado em primeiro de março. Nele, os pesquisadores mostraram que as mutações observadas na proteína Spike das principais variantes do vírus têm pouco impacto sobre a resposta de células T CD4 e T CD8 induzida pelas vacinas da Pfizer e da Moderna. Em outras palavras, parte da resposta induzida por estas vacinas continua igualmente ativa contra as variantes testadas. É claro que com menor atividade de anticorpos neutralizantes a resposta global deve piorar, pois o sistema imunológico é como uma orquestra, mas já há várias evidências, como mostrado neste outro trabalho também de primeiro de março, mostrando que a resposta imunológica celular é eficaz e importante no controle da doença.

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Fonte: Jornal da USP

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