Pesquisadores do ICB-USP descobrem mecanismo de ataque utilizado pela Salmonella contra a microbiota intestinal

Estudo pode ser útil para o desenvolvimento de novos medicamentos probióticos contra a salmonelose – doença infecciosa causada pela contaminação da Salmonella que ataca o aparelho gastrointestinal.

Há milhões de anos, as bactérias competem entre si para sobreviverem. Elas se utilizam de diferentes estratégias para tentar matar suas concorrentes e assim garantir alimento para se proliferarem. A Salmonella, bactéria da família das Enterobacteriaceae que causa intoxicação alimentar, usa toxinas com essa finalidade contra membros da microbiota intestinal. Faltava, no entanto, descobrir quais eram essas toxinas e como elas atuam – feito que coube a pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP).

Publicada na revista científica eLife, a descoberta abre caminho para um novo alvo de terapia contra a salmonelose – doença que ataca o aparelho gastrointestinal e é uma das principais causadoras de infecções alimentares no mundo. De acordo com Ethel Bayer Santos, jovem pesquisadora da FAPESP e coordenadora do laboratório responsável pelo estudo, situado no Departamento de Microbiologia do ICB-USP, foram caracterizadas quatro toxinas, denominadas TseVs, que nunca haviam sido estudadas.

“As toxinas possuem regiões de proteínas que geralmente são encontradas em enzimas que atuam no reparo de DNA [momento no qual a célula identifica e corrige os danos das moléculas de DNA]. No entanto, em vez de reparo, as toxinas causam dano no DNA, e atacam ele no momento da sua replicação, quando são formadas estruturas em formato de Y”, explica.

Elas são disparadas pelo sistema de secreção do tipo 6, que são grandes complexos de proteínas, em formato de uma lança contrátil, que se encontram na membrana das bactérias. A Salmonella encosta na membrana da competidora e libera as toxinas dentro dessas células, eliminando a competição e ficando livre para infectar as células do intestino do hospedeiro. “Já havia sido mostrado que Salmonella pode intoxicar os membros da microbiota, mas é a primeira vez que foi descrito uma toxina antibacteriana que tem como alvo estruturas específicas de DNA”, explica Bayer Santos.

As infecções pela Salmonella ocorrem principalmente por causa de alimentos contaminados, seja pela ingestão de carnes e ovos crus ou malpassados, pela manipulação dos alimentos sem a devida higienização ou contaminação cruzada.  As infecções em humanos são causadas por sorotipos de Salmonella enterica, sendo mais comuns S. Enteritidis e S. Typhimurium.

A contaminação geralmente causa gastroenterite, doença caracterizada pela inflamação e irritação no sistema digestivo, ocasionando sintomas como diarreia, dor abdominal, cólicas, náuseas e vómitos. No entanto, novas cepas que surgiram na África mostraram-se invasivas, afetando outros órgãos e causando infecções sistêmicas, que podem ser fatais.

“Ao entender como essas toxinas afetam a microbiota, talvez possamos vir a ter um novo medicamento probiótico que possa promover resistência a infecção por esses patógenos, auxiliando na prevenção e melhora dos pacientes.”

Microscopia e bioinformática – Nos estudos in vitro, os pesquisadores observaram os ataques na dupla fita de DNA em dois ensaios de microscopia. “Observamos as bactérias crescendo e competindo umas com as outras, depois contamos quantas sobreviveram e se era possível ter mutações que possibilitassem sua adaptação. Vários fragmentos de DNA também foram sintetizados artificialmente para verificar em quais estruturas aconteciam os ataques”, detalha Julia Hespanhol, mestranda em microbiologia e uma das responsáveis pela pesquisa.

Além da microscopia, foram empregadas técnicas de bioinformática para encontrar outras bactérias que têm sequencias de toxinas similares em seus genomas. “Nossas descobertas podem ser aplicadas a outros grupos de bactérias, como as Pseudomonas [causadoras da fibrose cística] e outras enterobactérias [bactérias da mesma família da Salmonella]”, destaca Daniel Sanchez, doutorando em microbiologia pelo ICB que também participou do estudo.

Fonte: ICB/USP

3º Simpósio do Programa de Pós-Graduação em Fisiologia Humana do ICB-USP

O 3º Simpósio em Fisiologia Humana do Programa de Pós-Graduação do Departamento de Fisiologia e Biofísica do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP), acontecerá nos dias 7 e 8 de dezembro.

O Evento será on-line, gratuito e aberto a pesquisadores de todo o país. Haverá premiação para os melhores trabalhos apresentados.

Organizado por pós-graduandos, com apoio e supervisão da Comissão de Pós-Graduação, o evento tem o objetivo de promover a troca de conhecimento e experiências entre pesquisadores de diferentes áreas de atuação em fisiologia humana. Além de conferências, haverá apresentações de trabalhos desenvolvidos  por pesquisadores de pós-graduação, pós-doutorado e iniciação científica de todo o Brasil “O evento é aberto a pesquisadores e pesquisadoras de outras instituições além da USP”, informa o doutorando Paulo Henrique Evangelista, um dos alunos responsáveis pela organização do evento.

Os melhores trabalhos irão concorrer a diversas premiações, com destaque para a primeira edição do Prêmio Margarida de Mello Aires, aberto apenas aos alunos do Programa de Pós-Graduação em Fisiologia Humana, que será concedido para a melhor dissertação de mestrado e tese de doutorado do ano. O prêmio é uma homenagem à professora do ICB que desenvolvia diversas pesquisas nas áreas de Biofísica e Fisiologia Renal, tendo escrito o livro Fisiologia, que até hoje é referência na área.

Esta edição do evento será comemorativa, pois ocorrerá no mesmo ano em que o Departamento completa 40 anos de existência. Para tanto, haverá também sessões com homenagens a professores e rememoração da história da fisiologia no ICB. A programação completa será divulgada em breve. 

Mais informações: https://doity.com.br/simpofisiousp2022.

Estudo internacional identifica três compostos naturais capazes de impedir a replicação do coronavírus

Compostos identificados por pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas da USP e da Alemanha conseguiram impedir mais da metade da replicação viral induzida pela proteína PLpro, um alvo terapêutico ainda pouco explorado.


Laboratório Cell Culture Facility for Vector and Animal Research do Departamento de Parasitologia do ICB-USP, onde foram conduzidos parte dos estudos.

Em parceria com pesquisadores da Universidade de Hamburgo e do Deutsches Elektronen-Synchrotron (DESY), ambos da Alemanha, o laboratório Unit for Drug Discovery do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP), coordenado pelo Prof. Carsten Wrenger, identificou três possíveis compostos para o tratamento da covid-19. Trata-se de compostos naturais selecionados em uma triagem com 500 fármacos, que se mostraram promissores em inibir a proteína PLpro – uma das enzimas responsáveis pela proliferação do SARS-CoV-2.

Publicada na Communications Biology, revista do grupo Nature, a pesquisa mostrou que os compostos conseguiram inibir a ação dessa enzima entre 50% a 70%. Os testes foram realizados em células VERO e comparados com um grupo de células que não recebeu os compostos. VERO é uma célula de macacos que possui similaridades com a célula humana, e que se expande e replica com mais velocidade.

“Ao inserirmos os compostos nas células infectadas, constatamos que eles impediram a replicação do coronavírus ao atingir a PLpro, que tem a capacidade de inativar as células do sistema imunológico e que podem levar a casos graves da doença. Como um percentual considerável dos vírus não conseguiu se replicar, as partículas virais infecciosas foram eliminadas”, explica Edmarcia Elisa de Souza, pós-doutoranda do ICB-USP. “Vale ressaltar que os compostos não apresentaram toxicidade. Ou seja, não houve dano à integridade das células, principalmente nas concentrações baixas às quais os compostos apresentaram atividade antiviral”, complementa.

Novo alvo terapêutico – A descoberta deste alvo terapêutico é muito relevante, pois trata-se de uma alternativa ao que vem sendo feito na ciência. “Se você buscar na literatura, você vai encontrar pouca coisa sobre a PLpro, então todo novo conhecimento sobre ela é importante. Saber que é possível inibir a replicação do SARS-CoV-2 por meio dela é uma grande descoberta porque a maioria dos estudos para tratamentos da covid-19 tem como alvo as proteínas Spike e 3CL. Conseguimos mostrar que existem mais opções caso esses estudos não avancem”, reforça Edmarcia.

O próximo passo é fazer testes em modelos animais para avaliar melhor a eficácia dos três compostos, e depois avançar para os testes clínicos. Caso os testes sejam bem-sucedidos, será a primeira utilização de um novo leque de moléculas. “Os compostos foram isolados da natureza. Não há nenhum registro sobre a utilização deles a não ser em pesquisas primárias. A eficácia deles abre a possibilidade para novas terapias”.

Seleção de compostos – No total, foram avaliados seis compostos, que foram selecionados inicialmente pela equipe de pesquisadores da Alemanha. “Nossos colaboradores na Alemanha observaram o grau de interação entre os compostos e a PLpro. Isso foi feito por meio de cristalografia de raio-x, um método inovador e ainda pouco difundido”.

A cristalografia permite fundir o composto à proteína e observar se pequenos cristais foram produzidos nessa união. Cristais esses que não poderiam ser vistos à luz dos microscópios tradicionais. “Analisando os cristais conseguimos produzir modelos tridimensionais das estruturas para identificar se elas se ligam e onde isso acontece. Quanto mais pontos de ligação entre elas, maior a afinidade”, afirma o Prof. Christian Betzel, líder do estudo pela Universidade de Hamburgo e professor visitante do ICB-USP.

A eficácia dos três compostos contra o SARS-CoV-2 foram posteriormente analisadas em células VERO infectadas no BSL3 Cell Culture Facility for Vector and Animal Research do Departamento de Parasitologia do ICB-USP. Trata-se de um laboratório de nível 3 de Biossegurança (NB3), que confere proteção aos pesquisadores que trabalham com o cultivo de micro-organismos que oferecem risco à saúde humana, como o coronavírus.

Fonte: ICB/USP

ICB-USP promove a nona edição do curso de Introdução à Psicofarmacologia Clínica

Curso aborda os mecanismos de ação dos fármacos utilizados no tratamento de distúrbios neuropsiquiátricos. Inscrições estão abertas até 5 de setembro.


Em sua 9ª edição, o curso “Introdução à Psicofarmacologia Clínica”, ministrado por Moacyr Aizenstein, professor do Instituto de Ciências Biomédicas da USP (ICB-USP) e pós-doutor em Psicofarmacologia pela Universidade da Califórnia (UCSD), está com inscrições abertas até 5 de setembro.

Aizenstein, autor dos livros Fundamentos para o Uso Racional de Medicamentos e Introdução a Psicofarmacologia Clínica aborda no curso os mecanismos de ação de psicofármacos, que produzem tanto os efeitos  terapêuticos desejados como os seus efeitos adversos.

Destinado a médicos, psicólogos, farmacêuticos, enfermeiros, dentistas, biomédicos e alunos de graduação com interesse na área, o curso também apresenta as bases moleculares dos distúrbios psiquiátricos e como elas vieram a ser descobertas a partir da utilização de medicamentos para seu tratamento. 

O curso também alerta para a medicalização exagerada ou equivocada, que pode trazer prejuízos à saúde do paciente e causar dependência. Além de outras formas de dependência, como o álcool. “Para explicar as teorias bioquímicas da dependência, eu dou uma aula sobre o álcool, que embora não seja utilizado com objetivos terapêuticos é um problema de saúde pública que está relacionado com o assunto”, destaca Aizenstein. 

O curso será realizado entre 19 de setembro e 7 de novembro, em formato EaD. Além das aulas teóricas em vídeo, que ficam gravadas e podem ser consultadas a qualquer momento durante o curso, os participantes terão acesso a salas de bate-papo para elucidação de dúvidas e uma relação semanal de exercícios.

Os módulos a serem trabalhados são: Introdução a Farmacologia do Sistema Nervoso Central; Neurotransmissores; Fatores e mecanismos moleculares relacionados à ocorrência de tolerância e dependência aos fármacos; Etilismo: Dependência e tratamento; Farmacologia e usos clínicos dos sedativos e hipnóticos; Tratamento farmacológico da depressão e dos transtornos de ansiedade; Tratamento farmacológico das psicoses; Fármacos psicoestimulantes: Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH).

Estão abertas 200 vagas no valor de 150 reais, e as inscrições podem ser feitas pelo link. Serão oferecidas 20 vagas para alunos que comprovarem vulnerabilidade socioeconômica familiar. São 4 horas de atividades semanais, totalizando 32 horas. Certificados de conclusão serão fornecidos aos alunos que obtiverem aproveitamento em 70% dos exercícios e participação em 85% das aulas.

Serviço

Curso “Introdução à Psicofarmacologia Clínica” 

Inscrições: até 05/09/2022 neste link

Realização: 19/09 a 07/11/2022

Contato: aizenst@icb.usp.br

Pesquisador da USP obtém financiamento para estudo inédito sobre TDAH e rendimento escolar

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Um projeto liderado pelo Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP foi contemplado com um financiamento do National Institute of Mental Health (NIMH), dos Estados Unidos, para estudar a relação entre o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e o rendimento educacional. O estudo receberá uma verba de cerca de US$ 2,7 milhões para ser utilizada durante cinco anos.

Liderado pelo professor Diego Luiz Rovaris, coordenador do Laboratório de Genômica Fisiológica da Saúde Mental do Departamento de Fisiologia e Biofísica, o projeto foi selecionado no edital Mental Health Research Awards for Investigators Early in their Career in Low and Middle-Income Countries, cujo principal objetivo é fomentar trabalhos de jovens pesquisadores altamente promissores no campo da saúde mental em países menos desenvolvidos ou em desenvolvimento.

O NIMH é um dos 27 institutos do National Institutes of Health (NIH), a principal agência de fomento à pesquisa em saúde dos Estados Unidos, que também atua em projetos fora do país. Com a injeção de recursos, o laboratório terá condições de alavancar sua pesquisa para obter dados inéditos sobre o tema, avaliando a variabilidade no DNA e suas interações com o ambiente. Atualmente, há grandes estudos que descrevem relações clínicas, epidemiológicas e biológicas entre o transtorno e o rendimento escolar, mas todos estão concentrados em países com altos índices de desenvolvimento humano.

“Os grandes estudos de varredura no genoma são conduzidos em países europeus, com elevada renda e baixa desigualdade social, como Suécia, Noruega e Dinamarca. Esse fator gera o que chamamos de viés eurocêntrico, que pode ser muito prejudicial para o desenvolvimento da medicina personalizada e da psiquiatria molecular para populações mais heterogêneas e miscigenadas, como a nossa. Queremos ver se os dados que eles apontam se adequam à realidade socioeconômica de um país em desenvolvimento e extremamente diverso etnicamente, como o Brasil”, aponta Rovaris.

O TDAH é altamente influenciado por aspectos biológicos e é um dos transtornos neuropsiquiátricos com o maior componente genético. O transtorno se manifesta, tipicamente, na infância e acompanha o indivíduo ao longo da vida em boa parte dos casos. Trata-se de um quadro que está presente em 3% a 5% das crianças em idade escolar e em 2% a 5% dos adultos, de acordo com a Associação Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA). Seus sintomas mais comuns são desatenção, impulsividade e hiperatividade, gerando elevado prejuízo nos contextos social, familiar, educacional e profissional.

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Fonte: Jornal da USP

Pesquisadores do ICB-USP validam eficácia de três novos testes sorológicos para a COVID-19

Produzidos no Instituto, testes obtiveram alta eficácia pelo padrão ouro de análises, inclusive quando comparados com um exame já em uso no mercado.


Pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP) atestaram a eficácia de três novos testes sorológicos para COVID-19. Desenvolvidos no próprio ICB, os testes usam o método ELISA (ensaio de imunoabsorção enzimática) para a detecção dos anticorpos contra o vírus SARS-CoV-2, e tiveram sua eficácia comparada com outro teste já em uso no mercado, o Elecsys, da farmacêutica Roche.

Publicado na revista Frontiers in Cellular and Infection Microbiology em junho deste ano, o trabalho foi feito com base em 1.119 amostras do sangue de pessoas que tiveram ou não tiveram contato com a doença. Os testes foram conduzidos no Hospital Universitário da USP ao longo do ano de 2020, portanto mostram um cenário ainda sem vacinas.

Na avaliação, o teste Elecsys, comercializado pela farmacêutica Roche, garantiu 96,92% de sensibilidade (capacidade de detectar casos positivos) e 98,78% de especificidade (capacidade de identificar casos negativos). O desempenho dos demais testes, do ICB, não ficaram aquém. O teste N-ELISA, que avalia uma proteína N completa do coronavírus, registrou 93,94% de sensibilidade e 94,40% de especificidade. Já o teste RBD-ELISA, que utiliza um fragmento da proteína Spike do coronavírus, obteve 90,91% e 88,80% de eficácia nesses dois critérios, respectivamente, enquanto o Delta-S1- ELISA, que utiliza um outro fragmento da Spike, apontou uma sensibilidade de 77,27% e uma especificidade de 76%.

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Fonte: ICB/USP

Pesquisadores do ICB-USP têm resultados promissores com possível medicamento contra o câncer de pâncreas


Células do câncer de pâncreas (em azul) se expandindo dentro das membranas (em vermelho)
Foto: National Institute of Health (NIH)

Pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP) conseguiram impedir a evolução do câncer de pâncreas em três modelos celulares da doença. O resultado, publicado na revista Investigational New Drugs do grupo Springer Nature, foi obtido com o uso do composto NSC305787. A descoberta abre caminho para o desenvolvimento de uma nova terapia contra esse tipo de câncer.

Ao analisar a base de dados The Cancer Genome Atlas (TCGA), que reúne informações do material genético de mais de 20 mil pacientes com 33 tipos de câncer, os pesquisadores identificaram que a maioria dos pacientes com câncer de pâncreas que tinha alta quantidade da proteína ezrina ia a óbito de dois a cinco anos após o surgimento dos tumores. “Obtivemos essa constatação após um longo trabalho de mineração de dados. Essa informação nos chamou a atenção para realizarmos testes com o composto, que é um inibidor da ezrina, já que se trata de um dos cânceres mais letais e que tem poucas opções terapêuticas”, conta o coordenador da pesquisa, o professor João Agostinho Machado-Neto, do Laboratório de Biologia do Câncer e Antineoplásicos do Departamento de Farmacologia do ICB-USP.

O composto foi aplicado em três modelos celulares de câncer de pâncreas e se mostrou capaz de impedir a ativação da proteína. “Com isso, houve um índice maior de morte das células tumorais, o que evitou o crescimento e a migração em ensaios in vitro, tornando-as menos malignas”, afirma.

A aplicação foi feita em modelos que simulam os tumores da doença. Trata-se de linhagens celulares, aprovadas para uso comercial, que foram obtidas a partir de amostras doadas por pacientes e submetidas ao processo de imortalização. Apesar das diferenças nos modelos experimentais, as células cancerosas testadas apresentaram resultados similares. 

“Com o êxito nesses primeiros testes, estamos planejando avaliar os efeitos do composto e a expressão do seu alvo ainda in vitro, mas agora em células obtidas diretamente de pacientes com o tumor. Assim, teremos um resultado mais assertivo frente a diversidade de resultados que obtivemos”, afirma Machado-Neto. 

Simultaneamente, os pesquisadores avaliam outros tipos de cânceres que podem se beneficiar do inibidor de ezrina. O grupo analisa as respostas ao composto no câncer do colo do útero (carcinoma cervical), câncer de cólon e leucemias. Com esses resultados, serão realizados testes em modelos animais. 

Segundo Machado-Neto, em estudos anteriores com modelos animais, o inibidor obteve bons resultados em termos de farmacocinética (capacidade de chegar até o local de ação e permanecer dentro do organismo) e se mostrou pouco tóxico. No entanto, ainda não há como desenvolver medicamentos a partir dele, pois o composto ainda não foi testado em seres humanos. Seu uso é restrito para pesquisa até o momento. 

Novas terapias são essenciais – Caso seja eficaz também em seres humanos, a estratégia deverá ser importante nos estágios iniciais e intermediários do câncer de pâncreas, já que evitaria o agravamento da doença. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA), a doença representa 4% do total de mortes por cânceres no Brasil, o que corresponde a cerca de 12 mil óbitos ao ano. Ainda segundo o órgão, cerca de 87% dos casos brasileiros resultam em mortes. 

Um dos principais fatores para a alta taxa de óbitos é a falta de alternativas terapêuticas, que hoje se resumem, basicamente, na quimioterapia. “A quimioterapia é um tratamento agressivo que é adotado quando os tumores já estão em estágios avançados. Ele não tem um alvo específico, portanto, compromete toda a saúde do paciente. Diferentemente da alternativa que propomos, que afetaria apenas a proteína responsável pela progressão da doença”, destaca Machado-Neto.

Caso a tese apontada pelo grupo se confirme em estudos clínicos, a ezrina também poderá ser utilizada como um biomarcador da doença para avaliação da gravidade da doença. “Essa análise pode ser feita por meio de um exame chamado imunohistoquímica, utilizado nos laboratórios para avaliar características dos tumores sólidos”, conta. 

Essa pesquisa teve a participação dos alunos de doutorado: Jean Carlos Lipreri da Silva, que atuou na mineração dos dados, Keli Lima, Livia Bassani Lins de Miranda e Bruna Oliveira de Almeida que atuaram nos testes celulares e moleculares. Também teve a colaboração da aluna de graduação Maria Fernanda Lopes Carvalho, do curso de Ciências Biomédicas do ICB-USP, que participou da pesquisa como bolsista de iniciação científica, e também atuou na mineração de dados do TCGA. 

Essa aluna também produziu um vídeo sobre o projeto, que lhe rendeu o primeiro lugar no IX Prêmio Qualidade Científica “Prof. Dr. João Garcia Leme” (categoria iniciação científica) do Departamento de Farmacologia, que elege os melhores trabalhos com participação de alunos de iniciação científica, mestrado e doutorado.

O estudo com o câncer de pâncreas faz parte de uma linha de pesquisas implementada no Instituto há quatro anos. Nela, são desenvolvidos trabalhos que buscam encontrar novos alvos terapêuticos para cânceres e assim identificar possíveis fármacos. Entre os trabalhos promissores, destacam-se os resultados in vitro com a NSC305787 contra a leucemia mieloide aguda e da molécula reversina contra a leucemia linfoblástica aguda, projeto esse que foi finalista do prêmio Prêmio Octavio Frias de Oliveira, organizado pelo Instituto do Câncer do Estado de São Paulo Octavio Frias de Oliveira (ICESP) e pelo Grupo Folha. 

Fonte: ICB/USP

USP aposta em abordagens inovadoras para imunizantes contra os vírus da dengue e do zika

O Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP vem realizando pesquisas com abordagens inovadoras para imunizantes contra a dengue e o zika vírus – três delas já com estudos publicados. Uma, chamada de vacina de subunidade, seria aplicada pela via intradérmica, com fragmentos de uma proteína do vírus que seriam direcionados às células dendríticas. Outra seria uma vacina transcutânea, ou vacinação pela pele, que utiliza adesivos contendo antígenos para estimular o sistema imunológico. E a terceira, uma tecnologia genética que se baseia em uma vacina de DNA, com o objetivo de otimizar a proteção do imunizante.

A vacina de subunidade contra a dengue utiliza a NS1, uma proteína já usada em outros imunizantes estudados e em testes de diagnóstico. No entanto, na abordagem desenvolvida, em colaboração com o grupo da professora Sílvia Boscardin, a NS1 do vírus da dengue foi guiada especificamente para células do sistema imunológico, as células dendríticas, conhecidas como potentes ativadoras do sistema imunológico.  “A estratégia de direcionar as proteínas para as células dendríticas fez com que a resposta de anticorpos anti-NS1 fosse potencializada nos camundongos imunizados e mantida por mais tempo nas amostras de sangue”, conta Lennon Ramos Pereira, doutor em Ciências pelo ICB e autor do estudo.

“Os resultados apontaram uma melhora da resposta imune sem que houvesse efeitos colaterais. Além disso, as formulações desenvolvidas, principalmente quando administradas pela via intradérmica, evitaram a produção de anticorpos com potencial de causar danos teciduais, aumentando a segurança do imunizante”, complementa.

Além desse imunizante, Pereira publicou outro estudo sobre uma vacina genética para o vírus zika, que pode ser adaptada para a dengue. “De forma inédita, desenvolvemos uma vacina de DNA baseada na sequência da proteína NS1 do vírus zika fusionada geneticamente a outra proteína viral (glicoproteína D do vírus herpes simples tipo 1), com capacidade de ativar o sistema imunológico. Essa estratégia foi capaz de aumentar a resposta imunológica e dobrar a proteção contra a infecção pelo vírus zika em animais imunizados. Além disso, a tecnologia é plenamente adaptável para outras doenças.”

Já a publicação sobre a vacina transcutânea, que utilizou o vírus da dengue como antígeno, conseguiu uma eficácia de proteção entre 80% e 100% nos testes com camundongos. “A pele é um órgão imunologicamente ativo, ou seja, é capaz de responder a uma infecção tão bem quanto o tecido intramuscular, local onde as vacinas geralmente são injetadas”, conta o autor do estudo Robert Andreata-Santos, doutor em Ciências e pesquisador colaborador pelo ICB. Segundo ele, trata-se de uma técnica promissora para diminuir o déficit vacinal entre pessoas que se recusam a receber vacinas por meio de injeções com agulhas, e que também poderia diminuir os custos com a aquisição dos insumos necessários à sua aplicação intradérmica (ampolas, seringas, agulhas etc.).

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Fonte: Jornal da USP

Máscara criada na USP para conter a COVID-19 inativa também o vírus da gripe

  • Diante do aumento significativo do número de casos de COVID-19 no país, vários governos municipais voltaram a recomendar o uso de máscara em ambientes fechados. Uma orientação que também pode ajudar a conter o avanço do vírus influenza, causador de infecção do sistema respiratório com alta mortalidade entre grupos vulneráveis.

A boa notícia é que existe uma máscara capaz de inativar ambos os vírus. Já comercializado com o nome de Phitta Mask, o produto foi desenvolvido no Instituto de Química da Universidade de São Paulo (IQ-USP) em parceria com a empresa Golden Technology.

O tecido da máscara é impregnado por um composto químico, o Phtalox, capaz de eliminar as partículas virais no momento em que elas entram em contato com a máscara. Em questão de segundos, a camada mais externa do vírus é destruída, impedindo sua replicação.

Em 2020 e 2021, o Instituto de Ciências Biomédicas (ICB-USP) realizou os testes que comprovaram sua eficácia (99%) contra o SARS-CoV-2 e suas variantes ômicron, delta, gama (P1) e zeta (P2). Não foi diferente com o influenza.

“Os resultados dos testes em laboratório nos deixam muito confortáveis. A máscara eliminou 100% dos vírus, tanto de influenza A como de influenza B. Isso é muito importante porque trata-se de uma doença com alta mortalidade, principalmente entre gestantes, idosos e crianças”, afirma o virologista Edison Luiz Durigon, pesquisador do ICB-USP apoiado pela FAPESP e coordenador das análises.

Os testes foram feitos em microplacas contendo as culturas de células, onde foram cultivados os vírus. Pedaços do tecido da máscara foram então colocados em contato com os vírus, quando se constatou a inativação completa deles por meio de microscópio, ao contrário dos testes de controle (placas só com os vírus). “Assim como no caso do coronavírus, o Phtalox também se mantém ativo por até 12 horas, conferindo proteção contra o influenza durante todo esse período”, explica o virologista.

Durigon acredita que, no futuro, haverá surtos sazonais e intercalados de COVID-19 e de influenza. “Por isso, é importante que a sociedade continue usando máscara, principalmente em ambientes de maior risco, como hospitais, transporte público, aeroportos e viagens aéreas.”

Para o CEO da Golden Technology, Sérgio Bertucci, a máscara também tem um papel importante do ponto de vista ambiental. “Enquanto uma máscara cirúrgica convencional precisa ser trocada a cada três horas, a nossa garante proteção por até 12 horas, o que diminui significativamente a quantidade de unidades descartadas no meio ambiente”, comenta.

Fonte: Assessoria de Comunicação do ICB-USP.

Estudo aponta alta probabilidade de surgirem novas variantes mais perigosas da covid-19 nos próximos meses

 

Em revisão de mais de 150 artigos, pesquisadores da USP e do Hospital Sírio-Libanês constataram que o vírus tem se tornado mais “inteligente”, resistente ao sistema imune e com maior potencial de transmissão

Por mais que o momento seja de relaxamento das medidas de prevenção à covid-19 em todo o mundo, especialistas preveem que novas variantes do coronavírus podem estar por vir nos próximos meses, driblando a capacidade do sistema imune de contê-las. Esta é a conclusão de um estudo feito por pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP, em parceria com o Instituto de Química (IQ) da USP e o Hospital Sírio Libanês.

Publicado na revista Viruses no dia 16 de abril, o estudo traz uma revisão de mais de 150 artigos sobre o sars-cov-2. Foram analisados diversos aspectos do vírus, como seu potencial de mutação, a capacidade de controle do sistema imune, a transmissibilidade e a eficácia das vacinas. “A principal conclusão a que chegamos é que não devemos deixar o vírus circular, porque não sabemos como serão as variantes nos próximos meses”, afirma Cristiane Guzzo, professora do departamento de Microbiologia do ICB e pesquisadora principal do artigo.

Segundo ela, é um erro acreditar que a pandemia está sob controle e que não se trata mais de uma emergência sanitária, como anunciou o Ministério da Saúde no último dia 18. “Estamos em uma situação confortável para os próximos meses – quando a imunidade criada pelas doses de reforço das vacinas e pelo alto índice de contaminação da Ômicron permanecerá alta. Mas depois a tendência é que as pessoas comecem a se infectar novamente e aí ficaremos sujeitos ao surgimento de variantes ainda mais contagiosas e fortes do que as que conhecemos, o que diminui a eficácia das vacinas. Como não temos como prever como será a evolução da pandemia e como as novas variantes vão se comportar, todo o cuidado ainda precisa ser feito pela sociedade de forma a evitar a circulação do vírus”, destaca.

Mais perigoso

No estudo, foi observado que o coronavírus é ainda mais mutável do que se imaginava. Isso porque a proteína Spike, parte superficial do vírus que faz contato com as células humanas, segue evoluindo. “Identificamos em primeira mão que 9,5% das mutações produzidas pelas variantes estão localizadas na região N Terminal (NTD) da proteína. Isso mostra que estas mutações não estão diretamente associadas à interação ao receptor humano ACE2, mas afeta principalmente a capacidade dos anticorpos humanos reconhecerem o vírus”, afirma Cristiane.

Os pesquisadores também constataram um número expressivo de mutações (7,7%) localizadas na região RDB, região que promove a interação com a ACE2. O que faz com que o contato entre vírus e célula humana seja maior e assim as contaminações aumentem. “A hipótese encontrada é de que a maioria das vacinas tem como princípio o estímulo da produção de anticorpos que inibam a interação entre a proteína Spike ao ACE2, de forma a diminuir a infecção viral. E uma das formas que o vírus encontrou para burlar essa inibição é modificar a região de interação do vírus com a célula humana”, enfatiza.  “O vírus vem evoluindo com o objetivo de se manter vivo e para isso ele está se modificando principalmente para burlar a ação dos anticorpos e conseguir infectar o ser humano”, complementa.

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Fonte: Jornal da USP