Identificado novo tipo de célula que torna os sobreviventes da sepse mais propensos a infecções

Identificado novo tipo de célula que torna os sobreviventes da sepse mais propensos a infecções

Karina Toledo | Agência FAPESP – A sepse é a principal causa de morte nas unidades de terapia intensiva (UTIs) brasileiras. Entre os pacientes que evoluem para a forma grave da doença, 40% morrem. E os sobreviventes frequentemente apresentam sequelas cardiovasculares e neurológicas, além de uma queda significativa na imunidade que perdura por anos após a alta hospitalar.

“Estudos sugerem que os sobreviventes da sepse têm risco seis vezes maior de desenvolver infecções graves quando comparados a indivíduos que nunca tiveram a doença. Eles ficam suscetíveis até mesmo a patógenos oportunistas, que não costumam causar problemas em pessoas saudáveis. Nós estamos começando a entender por que isso acontece”, diz à Agência FAPESP José Carlos Farias Alves Filho, professor da Universidade de São Paulo (USP) e coordenador de um estudo sobre o tema que acaba de ser divulgado na revista Immunity.

Popularmente chamada de infecção generalizada, a sepse é na verdade uma inflamação sistêmica comumente desencadeada por uma infecção localizada que saiu do controle. Na tentativa de eliminar o agente patogênico – que pode ser uma bactéria, um fungo ou até mesmo um vírus, como o SARS-CoV-2 –, o sistema imune começa a produzir substâncias inflamatórias de forma excessiva que prejudicam o próprio organismo. Nos pacientes com a forma grave, ocorre lesão de órgãos vitais, queda na pressão arterial e – em última instância – um quadro de falência circulatória conhecido como choque séptico.

Para entender como isso resulta em imunossupressão, o grupo coordenado por Alves Filho fez uma série de experimentos com camundongos e com células imunes isoladas do sangue de pacientes sépticos. A investigação foi conduzida pela pós-doutoranda Daniele Carvalho Bernardo Nascimento, bolsista da FAPESP. Os pesquisadores integram o Centro de Pesquisa em Doenças Inflamatórias (CRID) – um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) sediado na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP).

“De modo resumido, nossos resultados revelam que a sepse induz a proliferação de uma subpopulação de linfócitos B que expressa grandes quantidades de CD39 – uma enzima que quebra a molécula de ATP [adenosina trifosfato, o ‘combustível’ químico das células] e libera adenosina na circulação. Esse aumento na concentração circulante de adenosina, por sua vez, reduz a atividade dos macrófagos, que são células de defesa responsáveis por fagocitar bactérias, fungos e outras potenciais ameaças ao organismo”, conta Alves Filho.

Como explica o pesquisador, o aumento nos níveis de adenosina no período inicial da sepse já era conhecido, bem como seu efeito imunossupressor. A adenosina se liga a um receptor presente na superfície do macrófago chamado A2aR, induzindo a produção de interleucina-10 (IL-10), uma molécula com ação anti-inflamatória.

A novidade do estudo foi demonstrar que a adenosina tem um papel central no desenvolvimento da imunossupressão pós-sepse e revelar qual célula é a fonte dessa adenosina extra encontrada no sangue de animais e de pacientes sépticos.

“Todas as células do sistema imune expressam CD39 em níveis variados. Mas observamos que tem uma subclasse de linfócitos B, denominada plasmoblasto, que produz grandes quantidades dessa enzima. Nós identificamos que esses plasmoblastos se proliferam muito após a sepse e sofrem uma reprogramação metabólica. Passam a consumir mais glicose e, consequentemente, a produzir mais ATP. Ao mesmo tempo, expressam grandes quantidades da enzima [CD39] que faz a hidrólise do ATP e libera adenosina. É como se os soldados se tornassem capazes de produzir a própria munição”, compara o pesquisador.

Experimentos

Para induzir a sepse grave em camundongos, os cientistas recorreram a um modelo conhecido como ligadura e perfuração cecal (CLP, na sigla em inglês), que consiste em fazer pequenos furos no intestino de modo a permitir o extravasamento de fezes e de bactérias para a cavidade peritoneal. O procedimento simula o que ocorre em pacientes com apendicite supurada. Os animais que sobreviveram à sepse foram acompanhados por 90 dias e, durante todo o período, se mostraram altamente suscetíveis a patógenos oportunistas. Quando expostos à bactéria Legionella pneumophila, nenhum sobreviveu. No caso do fungo Aspergillus fumigatus, somente 20% sobreviveram.

Para confirmar a importância da adenosina no quadro de imunossupressão pós-sepse, foram feitos experimentos com fármacos capazes de inibir a enzima CD39 ou o receptor de adenosina A2aR. Entre os animais que receberam esse “tratamento” antes da exposição a patógenos oportunistas, o percentual de sobreviventes aumentou para 60%.

Quando o mesmo experimento foi feito usando animais geneticamente modificados para não expressar a enzima CD39 ou o receptor A2aR, a sobrevivência chegou a 70%.

Ao analisar o sangue de pacientes sépticos internados no Hospital de Clínicas da FMRP-USP, os pesquisadores notaram que, quanto mais grave era o quadro, mais altos eram os níveis de adenosina circulantes e maior também era a quantidade de plasmoblastos expressando CD39.

Diversos outros testes foram feitos com camundongos para elucidar o mecanismo imunossupressor passo a passo. Em um deles, animais sadios receberam uma infusão de plasmoblastos isolados de animais sépticos e, como consequência, tornaram-se mais suscetíveis aos patógenos oportunistas.

Experimento semelhante foi feito com células humanas. Macrófagos isolados de voluntários sadios foram incubados com plasmoblastos de pacientes sépticos e com uma bactéria oportunista. Devido à ação da adenosina, as células de defesa ficaram incapazes de matar o microrganismo.

Lacunas

Uma questão que permanece em aberto é por quais mecanismos a sepse provoca a proliferação dos linfócitos B produtores de CD39. Outra tarefa futura é acompanhar pacientes que sobreviveram à sepse grave e avaliar se os níveis de adenosina circulantes permanecem elevados por longos períodos, como ocorre nos camundongos.

Em um trabalho anterior, divulgado na Nature Communications em 2017, o grupo liderado por Alves Filho havia mostrado que a sepse induz a proliferação de outro tipo de célula imunossupressora conhecido como linfócito T regulador, ou Treg (leia mais em: agencia.fapesp.br/25041/).

“Nós já havíamos demonstrado que a sepse gera a expansão de linfócitos T reguladores de uma maneira dependente de IL-10. No presente estudo, demonstramos que a adenosina produzida pelos plasmoblastos é um mediador que leva à produção de IL-10 por macrófagos em sobreviventes à sepse. Esses dois trabalhos, portanto, se conectam: o plasmoblasto induz a produção de IL-10 pelos macrófagos que, por sua vez, podem promover a expansão de linfócitos T reguladores, amplificando o estado imunossupressivo dos indivíduos”, comenta Nascimento.

Segundo a pós-doutoranda, a identificação desse novo mecanismo abre caminho para a busca de intervenções capazes de reverter o quadro. “Acreditamos que, se conseguirmos inibir a expansão dos plasmoblastos, poderemos reduzir a imunossupressão e, consequentemente, aumentar a expectativa de vida dos indivíduos que sobrevivem à sepse.”

O artigo Sepsis expands a CD39+ plasmablast population that promotes immunosuppression via adenosine-mediated inhibition of macrophage antimicrobial activity pode ser lido em: www.cell.com/immunity/fulltext/S1074-7613(21)00335-6?_returnURL=https%3A%2F%2Flinkinghub.elsevier.com%2Fretrieve%2Fpii%2FS1074761321003356%3Fshowall%3Dtrue.

Este texto foi originalmente publicado por Agência FAPESP de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original aqui.

Material feito com CO2 é capaz de evitar infecções por fungos e bactérias

Uma das vantagens do biomaterial é que ele pode ajudar o meio ambiente ao utilizar gás carbônico (CO2) retirado da atmosfera como matéria prima em sua produção. Foto: Henrique Fontes

Tecnologia desenvolvida na USP poderá ser utilizada como curativos de feridas crônicas e revestimento de implantes ortopédicos e odontológicos

Um biomaterial capaz de proteger implantes médicos e odontológicos da contaminação por microrganismos como bactérias e fungos, evitando eventuais infecções que possam complicar o estado de saúde do paciente. E tudo isso ainda ajudando o meio ambiente, por meio do uso de gás carbônico (CO2), que pode ser retirado da atmosfera e utilizado como matéria-prima em sua produção. A tecnologia, desenvolvida por pesquisadores do Instituto de Química de São Carlos (IQSC) da USP, gerou um artigo que foi publicado na Journal of Sol-Gel Science and Technology, revista científica internacional.

Elton de Souza Lima, o autor da pesquisa realizada durante seu doutorado no IQSC, explica que:

“O biomaterial poderá ser empregado como filme para revestir a superfície de um implante ou ainda ser utilizado como membrana para curativos de feridas crônicas. A vantagem desse material em relação aos já rotineiramente utilizados é a sustentabilidade associada ao seu processo de obtenção [por meio da utilização de CO2] e também sua elevada atividade antimicrobiana, sendo efetivo até mesmo contra alguns microrganismos resistentes a antibióticos. Vale ressaltar que uma das principais causas de falhas de implantes são infecções causadas por fungos e bactérias, e solucionar esse problema tem sido objeto de grandes esforços da ciência.”

O material tem um nome diferente, se chama poli-hidroxiuretana (PHU) ou ainda Poliuretana Livre de Isocianato (NIPU). Atualmente, as PHUs possuem “mil e uma utilidades”, podendo ser aplicadas na construção civil, indústria de sapatos, veículos, mobiliários, tecidos, dispositivos biomédicos, roupas, recobrimentos de paredes ou utilizadas como adesivos, espumas, etc. O protótipo desenvolvido durante a pesquisa da USP, especificamente, além de utilizar o CO2 como matéria-prima, possui em sua composição silicato, que é um tipo de mineral, ácido fosfórico e silicone, este último componente, um dos diferenciais da tecnologia. 

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Fonte: Jornal da USP

Pesquisadores alertam para risco da emergência de novas doenças

Uma carta publicada na revista científica The Lancet, um dos periódicos de maior prestígio da área biomédica, alerta para o risco da emergência de novas doenças no Brasil, especialmente aquelas de caráter silvestre. Dez pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e Centro para Sobrevivência de Espécies do Brasil (Center for Species Survival Brazil/IUCN-SSC) são autores da publicação.

O documento conta ainda com o apoio de 15 especialistas de instituições nacionais e internacionais, entre elas, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). O texto aponta retrocessos nas políticas sociais e ambientais do país, que podem favorecer a ocorrência de infecções causadas por patógenos de origem animal, chamadas de zoonoses. Os especialistas defendem a criação de um sistema integrado de vigilância de doenças silvestres. Leia o documento na íntegra.

Cientistas de diferentes unidades e programas de pesquisa da Fiocruz subscrevem a carta, incluindo Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (Ensp/Fiocruz), Fiocruz-Ceará, Vice-Presidência de Produção e Inovação em Saúde (VPPIS/Fiocruz), Projeto FioAntar e Programa Institucional de Biodiversidade e Saúde Silvestre (PIBSS/ Fiocruz). No IOC, pesquisadores de quatro laboratórios são autores do documento. São eles: Laboratório de Biologia e Parasitologia de Mamíferos Silvestres Reservatório, Laboratório de Virologia Comparada e Ambiental, Laboratório de Desenvolvimento Tecnológico em Virologia e Laboratório de Vírus Respiratórios e do Sarampo.

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Fonte: FIOCRUZ

Superbactérias resistentes a antibióticos

Superbactéria KPC: o que é, sintomas e tratamentoSegundo dados da Anvisa, a KPC foi o micro-organismo que mais causou infecções em hospitais públicos e privados da cidade de São Paulo

Um grupo de bactérias, denominado superbactérias, é resistente ao tratamento com antibióticos. É o caso da Klebsiella pneumoniae carbapenemase, mais conhecida como KPC. Durante muito tempo, ela foi restrita a ambientes hospitalares; no entanto, estudos recentes revelaram que sofreu mutações genéticas. A médica Silvia Costa, do Departamento de Moléstias Infecciosas e Parasitárias do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, diz que o controle de resistência pelo antibiótico é muito complexo. Mesmo existindo uma lei que permite somente a compra desses medicamentos com prescrição médica e a existência de comissões de controle nos hospitais, que avaliam os pacientes e determinam tempo de uso dos antimicrobianos, falta uma base de dados completa com o perfil e a resistência das bactérias que estão causando infecção na comunidade.

A professora explica que, se precisarmos dos dados de resistência bacteriana em infecções do trato urinário, no Estado de São Paulo, não temos esses dados. “Isso facilitaria muito o controle da infecção na comunidade.”

Ouça o áudio da entrevista abaixo:

 download do áudio

Fonte: Jornal da USP

 

Obesos e diabéticos são mais propensos a desenvolver doenças infecciosas

Alteração em célula de defesa torna obesos e diabéticos mais suscetíveis a infecções

Indivíduos obesos e com diabetes do tipo 2 estão mais propensos a desenvolver doenças infecciosas, pois as duas condições afetam o sistema imune. O que não se sabia até agora era o mecanismo envolvido na queda da imunidade desses pacientes.

Estudo realizado no Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP) e publicado na revista Scientific Reports sugere que o fenômeno está ligado a alterações nos neutrófilos, as primeiras células de defesa a reagir diante de um agente invasor.

O trabalho é resultado do projeto de doutorado do bioquímico Wilson Mitsuo Tatagiba Kuwabara, realizado sob orientação da bióloga Tatiana Carolina Alba-Loureiro, com apoio da FAPESP. A investigação foi conduzida no ICB-USP, no antigo laboratório do professor Rui Curi, atualmente no Instituto Butantan e na Universidade Cruzeiro do Sul.

“Esse trabalho tem uma relevância muito grande, pois demonstra que as condições de resistência à insulina, que chamamos de síndrome metabólica, estão ligadas a uma alteração importante nos neutrófilos. Indica também que essa alteração pode estar na origem da suscetibilidade que obesos e diabéticos do tipo 2 apresentam em relação a processos infecciosos”, disse Curi.

Kuwabara conta que até agora não se sabia a razão pela qual obesos e diabéticos são mais vulneráveis ao agravamento de doenças infecciosas. “Encontramos a resposta ao investigar, nos neutrófilos, o que ocorre com a proteína TLR4 quando esta reconhece a toxina LPS [lipopolissacarídeo, principal componente da membrana externa de bactérias gram-negativas] dos patógenos invasores”, disse.

Os receptores do tipo Toll (do inglês toll-like receptors, ou TLR) são uma família de proteínas que fazem parte do sistema imune. Prejuízos no processo de ativação de TLR4 estão associados a uma menor capacidade das células de defesa de combater microrganismos.

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Fonte: FAPESP

Workshop gratuito “Desenhos de estudos qualitativos em pesquisa..” – Escola de Enfermagem da USP

Workshop gratuito sobre “Desenhos de estudos qualitativos em pesquisa em infecções relacionadas à assistência à saúde“, a ser realizado na EEnf-USP de 9 a 13 de fevereiro, organizado pela Escola de Enfermagem da USP e University of Nottingham com o apoio da FAPESP. Inscrições até dia 23 de janeiro, em inglês sem tradução simultânea, sendo 17 vagas para pesquisadores do Reino Unido e 17 para do Estado de São Paulo e com título de doutor há menos de 10 anos (Fonte: Agência FAPESP, 21 jan. 2015).

Infecção em transplantes e/ou imunodeprimidos na FMUSP

235328_FMUSP_CARTAZ 2014-1 (2)A Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, promove o VIII Curso de Infecção em Transplantes e o V Simpósio de Infecção em Imunodeprimidos, dias 12 e 13 de agosto de 2014, no Centro de Convenções Rebouças, em São Paulo, SP.

O evento é direcionado a estudantes, residentes, pós-graduandos, médicos e profissionais da área de saúde.

Haverá a participação de dois palestrantes internacionais:

        • Francisco Marty – Harvard Medical School
        • Ray Hachem – Universidade do Texas

Mais informações:
Tel.: 11 3088-4945
e-mail: cursotxmi@yahoo.com.br